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quinta-feira, 29 de março de 2012



__Festival de Curitiba_____________________________


Nelson Rodrigues é homenageado em Curitiba com 'Escravas do Amor'

Autor do folhetim 'para mocinhas dos anos 40' faria 100 anos em 2012.
Peça estreou nacionalmente no Festival de Curitiba na quarta-feira (28).


Escravas do Amor, Festival de Curitiba (Foto: Divulgação/Festival de Curitiba)

Começaram na quarta-feira (28) as homenagens ao centenário de Nelson Rodrigues no Festival de Curitiba. A adaptação teatral do folhetim publicado em jornais “Escravas do Amor” trouxe ao palco do Teatro Guaíra uma versão pouco vista da obra rodrigueana, que ainda assim não esconde as muitas obsessões do autor. O Festival segue até o dia oito de abril.
A peça estreia nacionalmente no Festival, após uma curta série de exibições no Rio de Janeiro. O diretor João Fonseca remonta o primeiro espetáculo em que atuou como diretor em 2006, o qual também passou pelos palcos de Curitiba. “A gente deve muito ao Festival nesse sentido”, afirmou. Para ele trata-se de um espetáculo “muito divertido, muito leve”.

Esta impressão pôde ser constatada pelos risos constantes das quase duas mil pessoas que dividiram espaço no Guairão na primeira apresentação. Não houve diálogo ou narração dos atores que não suscitasse gargalhadas – esparsas ou unânimes. O resultado foi um espetáculo que dispensou o fechamento das cortinas para ser aplaudido, já que em pelo menos duas oportunidades uma cena no meio da apresentação foi ovacionada.
A obra
“Escravas do Amor” foi escrita sob o heterônimo de Suzana Flag com objetivo de cativar as recatadas mocinhas dos anos 40, avessas ao “pornográfico” Nelson Rodrigues . A trama começa no dia em que Malu seria pedida em casamento por Ricardo, o que acaba por não se consumar quando o quase noivo resolve acabar com a própria vida em frente à quase noiva. A partir de então, cerca de 600 páginas de acontecimentos entre a “quase viúva”, a mãe, o pai e a amante do pai começa a ser destrinchada diante do público.


A trama segue a estrutura folhetinesca na qual foi publicada, dividida em capítulos devidamente anunciados pelos próprios atores, que também exercem papeis de narradores. Fonseca apostou justamente nestas características de novela para prender a atenção dos espectadores. “Você torce principalmente pelo desenlace romântico: Vai ficar com ele? Vai ficar com aquele? Vai dar certo com aquilo?”, conta.
Essa “pegada” é evidenciada nas idas e vindas do enredo, no qual o público até se perde na torcida pelas personagens. O “dramalhão” abre espaço para dúvidas sobre quem diz a verdade, sobre supostas infidelidades, e ainda sobre a veracidade de fotos de Malu que chegam aos pais da jovem, os quais relutam diante das imagens. “O Nelson tinha uma criatividade. Chega uma hora que ele coloca uma onça, e a onça ataca a personagem. Ele fazia isso, é muito maluco, de onde ele tirou essa onça?, questiona, entre risos, o diretor.

Escravas do Amor, Festival de Curitiba (Foto: Divulgação/Festival de Curitiba)

O elemento narrativo se mostrou o principal trunfo da peça. Um mecanismo aparentemente simples, mas eficiente, divertiu os espectadores ao longo da 1h45 de duração do espetáculo. Em todas as cenas os atores anunciavam à plateia, como se fossem narradores, o que aconteceria em seguida na trama, para então voltarem-se ao palco e executar.
Um desses momentos mais emblemáticos foi quando, já morto, o noivo anunciou – “Ricardo está morto” –, para então se deixar cair, ilustrando a narração. "Acho que o mais gostoso é a brincadeira narrativa que os atores descobriram, de estar tempo todo jogando com a plateia, de estar falando do próprio personagem na primeira pessoa e brincando com isso", comentou Fonseca.
Obsessões
Se para o diretor obras como “O Casamento” usam das obsessões de Rodrigues para transformar o espetáculo em “quase pornográfico”, em “Escravas” o auge da libido são meras trocas de beijos entre os personagens. “É como se fosse o preto e o branco”, exemplificou Fonseca. Contudo, o heterônimo de Suzana Flag é eficiente em mascarar alguns traços marcantes das obras do autor.


O adultério, por exemplo, é tema central do enredo. O cenário familiar desenhado na primeira cena se esfacela com uma série de insinuações, desconfianças e consumações de infidelidade entre todas as instâncias. Quando o pai de Malu descreve as fotos que recebeu da filha dá a entender que ela participou de uma orgia nos Estados Unidos, outro tema recorrente de Rodrigues. Há também espaço, apesar de diminuto, para a polêmica máxima rodrigueana de que “mulher gosta de apanhar”.
É neste tom que a peça termina, quando os pares são rearranjados e a amante do pai de Malu toma à frente do palco e declama. “Eu sou uma escrava do amor, mas quem não é? Todas somos!”.
Serviço
A peça será exibida novamente nesta quinta-feira (29), também no Teatro Guaíra. Ainda há ingressos para todos os setores, e a apresentação será às 21h. O Guaíra fica na Rua Conselheiro Laurindo, s/nº. As entradas podem ser adquiridas no
site do Festival.

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