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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

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Porto Alegre:


Músico faz rap criticando salário de deputados, e caso vai parar no MP.

Letra critica fato de deputados do RS terem aumentado salários em 73%.
Presidente da Assembleia à época enviou ofício ao Ministério Público.

Tonho Crocco (Foto: Christian Jung)

No próximo dia 22, o músico Tonho Crocco deverá comparecer ao Ministério Público Estadual do Rio Grande do Sul para uma audiência. O assunto será o rap que ele compôs criticando um reajuste de 73% que deputados estaduais aprovaram para seus próprios salários em dezembro, no final da legislatura.
Com o nome de “Gangue da Matriz”, a música tem frases como “o crime aconteceu em plena luz do dia” e “subiram seu salário; me senti um otário” e faz rimas com os nomes de 36 deputados que teriam votado a favor do aumento junto com o refrão “gangue da matriz, gangue da matriz”.
O nome da música faz referência à localização da Assembleia Legislativa, na Praça da Matriz, e a crimes ocorridos na década de 80 no local.
"Nos anos 80, tinha um grupo de filhos de pessoas ricas que faziam artes marciais e covardemente batiam em uma pessoa e teve até um assassinato. Como a Assembleia Legislativa é na Praça da Matriz, essa foi a metáfora que eu quis usar porque me senti agredido, meu direito foi assassinado ali naquela hora. Então essa é a referência dessa frase", diz Crocco.
A audiência tem origem numa representação enviada ao MP pelo então presidente da Assembleia, Giovani Cherini (PDT), pedindo a “instauração de procedimento investigatório para apuração de possível cometimento de infrações penais”. O texto diz que o “protesto” de Crocco se insere nos crimes contra a honra, do Código Penal. A letra e a gravação da música foram encaminhadas aos promotores.
O Ministério Público diz que tratou o caso, em tese, como “infração de menor potencial ofensivo” e que a polícia elaborou um termo circunstanciado. Uma audiência preliminar foi marcada para o próximo dia 22 para “possível conciliação e esclarecimentos entre as partes”.
“Essa conciliação, para mim, não existe. Vou ter que pagar cesta básica pelo que fiz? Vou ter que retirar a música? Vou ter que me retratar? Não existe. Pretendo levar esse processo adiante. Se o Ministério Público não arquivar no dia 22, vou levar [o caso] até o fim porque não me considero culpado e acho que tenho direito de exercer minha cidadania, minha crítica. Sou músico, não sou político, e minha manifestação foi desse jeito. Não quero que se abra esse precedente para as pessoa terem medo de se manifestar”, contesta o músico.

'Singelo ofício'
Giovani Cherini, que atualmente é deputado federal, afirma, por meio de nota publicada em seu site, que o comunicado enviado ao MP foi um “singelo ofício feito pela Presidência da Assembleia Legislativa (de forma absolutamente impessoal)” e que o documento foi referendado em reunião de líderes.
A nota afirma ainda que Cherini não teve o nome citado no rap, o que mostraria, segundo a nota, a “total falta de interesse pessoal” dele no caso.
Já o atual presidente da Assembleia Legislativa, Adão Villaverde (PT), disse que não houve decisão da Mesa da Casa para que o ofício fosse encaminhado ao MP e afirma que pretende tentar anular a representação.
“Nosso procurador vai à Justiça verificar qual é o caráter desta intimação para saber quem irá lá [na audiência], se é o deputado Giovani Cherini ou a Assembleia Legislativa como instituição. Se for a Assembleia como instituição, vou levar à decisão da Mesa para que se retire isso”, disse.
De acordo com o Ministério Público, devem participar da audiência, juiz, a promotora responsável pelo caso e as duas partes, Giovani Cherini e Tonho Crocco, ou seus representantes.
Segundo o atual presidente da AL, o episódio foi “equivocado”. “A tradição da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul é de ser defensora da democracia. As artes são uma forma de manifestação que vivem à frente do tempo da gente. Elas são revolucionárias, quase que transgridem determinadas normas, e todas as sociedades que quiseram tolher formas de manifestação artística caíram em regimes autoritários”, opina.
Enquanto o caso não se resolve, Tonho Crocco vêm um outro lado da polêmica. Integrante de uma banda por 18 anos e cantor solo há três, só agora ele vive seu maior período de fama. “Não esperava isso. Em toda a minha vida, a música que mais fez sucesso foi essa. Já está em 51 mil acessos [no You Tube]. Não eram mais de 30 mil até a semana passada”, contabiliza.

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