Pop & Arte:
Com 'rock monocromático', Stevens tenta se firmar sem largar faculdade.
'A proposta das bandas coloridas não é música, é imagem', diz vocalista.
Em novo CD, grupo de universitários se distancia do som de Restart e Cine.

Quando se pergunta aos nomes do novo pop brasileiro se fazer uma faculdade está nos planos, a resposta quase sempre é a mesma. Luan Santana, Restart e outros já disseram que falta tempo para isso. Não é o caso dos rapazes do quarteto paulistano Stevens. Com seu segundo disco, "Hey!", o grupo tenta se firmar na cena pop rock, mas sem abandonar os estudos.
"Todo mundo da banda faz faculdade, não sei o que vai ser da banda quando tiver 40 anos", explica o cantor e guitarrista Lucas Adam, aluno de Direito da Universidade de São Paulo (Usp). "Poderíamos botar uma calça amarela. Mas se tiver que fazer isso para viver de música, não vamos fazer. Podemos ter a música como paixão e outro plano, se não rolar." O discurso e as canções reforçam a proposta de passar longe do rock colorido de Cine e derivados.
"Se não estudasse, poderia estar falando um monte de besteira com você. Eu me sinto feliz em ter a capacidade de falar sobre todos os assuntos. É importante ler jornal, ser bem instruído", diz Adam, que aparenta ter mais do que seus 18 anos. "Quero estudar para poder ser deputado ou juiz. Gosto muito de direito constitucional."
Até na hora de provocar, o garoto caçoa de seus detratores com bem mais classe. "Às vezes, vejo um comentário em nossos clipes [no YouTube] e sei que os caras nem ouviram a música. Isso me revolta. Também já me senti incomodado que o negócio não é analisado pela sonoridade, mas pela tonalidade", explica. Adam conta que costumam ser chamados de "banda colorida sem calça colorida". "Falam isso só pela nossa idade. É natural que o público mais velho tenha preconceito. Eles não querem ser fãs de um moleque de 18 anos, porque são mais velhos que a gente", teoriza Adam.
Depois de ter o primeiro trabalho produzido por André Jung (ex-baterista do Ira!), o grupo foi atrás de Paul Ralphes, inglês radicado no Brasil que já trabalhou com B5 e Kid Abelha. “Ele levou o Skank para Abbey Road [estúdio inglês], fez o Acústico MTV do Sandy & Jr, que é muito bom”, elogia. “A gente se identificou, temos as mesmas ideias de sonoridades. Conversamos sobre Beatles, Queens, Kooks, Muse, Arctic Monkeys.”
Versão do New Radicals
As preferências e o produtor vêm da Inglaterra, mas a banda escolhida para ganhar uma versão é americana. “Tínhamos pensado em fazer uma versão do New Radicals já no primeiro disco. É uma música lindíssima, tem um piano lindíssimo”, comenta. “Gotta stay high”, do finado New Radicals (grupo que lançou apenas um CD, em 1999), virou “O seu olhar”.
As composições próprias vão pelo lado do rock radiofônico e lembram um Kings of Leon mais light ("A resposta") ou um Killers teen ("Não é o bastante"). "O Killers é uma banda que a gente ama", reconhece. "Colocamos um sintetizador, para ver como iria ficar. Nosso intuito é fazer canções voz e violão, com uma melodia bonita. Daí levamos para o estúdio."
Mesmo com o que chamam de "rock monocromático", o Stevens se dá até bem com os grupos da leva do Restart. "Conheço todos e sou amigo de muitos", resume. "Não as critico, porque a proposta não é música, é imagem. Não é um CD que ponho no carro, é só uma baladinha bonita e tal. É um puta show de entretenimento, as pessoas saem mais felizes."